Ao longo do século XX a cidade do Rio de Janeiro enfrentou transformações no espaço urbano, com o objetivo de modernizá-la. No período da Ditadura e no governo de Carlos Lacerda enfrentou políticas “remocionistas” e grandes obras públicas – a construção do Parque do Flamengo foi uma delas. As décadas de 1930 e 1940 foram caracterizadas por crescimento habitacional, com destaque para a Zona Sul. Contudo, o Centro ainda era o local de concentração de empresas e trabalhadores, o que gerava um grande fluxo de veículos diariamente e aumentava a necessidade de conectar as regiões.
As necessidades locais e o impulso na urbanização do país durante o Estado Novo de Vargas e o governo JK levaram à articulação de planos viários e intervenções. Como alternativa para facilitar o tráfego, uma extensa faixa de solo aterrado foi projetada junto à orla da Baia de Guanabara, do Aeroporto Santos Dummont ao início da Praia de Botafogo – o aterramento foi iniciado nos anos 1950, com a areia do desmonte e remoção do Morro de Santo Antônio.
É somente na década de 1960, em um contexto de transformações sociais e políticas, com o Rio deixando de ser capital, que a obra de aterramento é encerrada e o projeto de urbanização da região e construção do Parque do Flamengo se inicia. Essas eram obras primordiais nas comemorações do quarto centenário do Rio de Janeiro e da imagem que Carlos Lacerda desejava construir do estado da Guanabara, contrapondo a Bellacap à Brasília, Novacap.
Em 1961, o então governador Carlos Lacerda incorpora a urbanização do Aterro ao Plano Doxiadis, o primeiro plano urbanístico metropolitano que tentava direcionar o crescimento urbano e a remoção das favelas nas décadas seguintes. Ele cria o Grupo de Trabalho para Urbanização do Aterro, uma equipe de profissionais que iria supervisionar as obras, do qual os nomes que assinariam o projeto faziam parte: Affonso Reidy, Roberto Burle Marx e Lota Macedo Soares. A narrativa de um projeto com “intenções sociais e estéticas” ilustra o objetivo por trás de algumas reformas públicas ao longo do século XX: criar o imaginário de uma cidade ideal e moderna, inspirada pelas grandes capitais mundiais, na tentativa de esconder os problemas sociais.
A inauguração do Parque foi formalizada no ano de 1965 com uma das maiores festas públicas da época, mas a obra nunca foi totalmente concluída, visto que alguns equipamentos do projeto original não saíram do papel. Nesse mesmo ano, foi tombado como Patrimônio Paisagístico Nacional e em 2012 a UNESCO concedeu ao Parque do Flamengo o título de Patrimônio Mundial da Humanidade.
REFERÊNCIAS
MENEZES, Maria Lucia Pires. O Aterro e o Parque do Flamengo. 50 anos de espaço público. Sucessos e conflitos Biblio3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales. [En línea]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 5 de abril de 2017, vol. XXII, nº 1.195. Disponível em: https://revistes.ub.edu/index.php/b3w/article/view/26422/27836. Acesso em: 01 de Junho de 2021.
BYINGTON, Silvia Ilg. (2018). No coração da cidade. Memória, poesia, arquitetura e narrativas sobre o Parque do Flamengo (1950 – 1960). Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/36364/36364.PDF. Acesso em: 01 de Junho de 2021.
Conheça o Complexo do Parque do Flamengo. Parque do Flamengo. Disponível em: https://www.parquedoflamengo.com.br/sobre-o-parque/. Acesso em: 02 de Junho de 2021.