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Bolsonaro e a Justiça de Transição

Caracterizado como uma figura conservadora de extrema-direita, Jair Messias Bolsonaro simboliza a Justiça de Transição falha do nosso país. Se, por um lado, representantes da tortura como Ustra lutaram por anos para esconder por debaixo dos panos os crimes horrendos cometidos durante a Ditadura Civil-Militar, por outro, com seus discursos de ódio e de defesa clara a este período, Jair – seja como uma maneira de diminuir seus opositores, como fez durante o Impeachment de Dilma Rousseff; seja como uma tentativa patética e imoral de conquistar apoio de um grupo mais radical – faz questão de jogar a poeira no ventilador e não mede esforços para demonstrar que “o erro da Ditadura foi torturar e não matar” – o que, para alguns nostálgicos, pode até mesmo ser motivo de arrependimentos –, pertencendo à linhagem de militares que não aceitaram a abertura democrática iniciada por Geisel.

De acordo com Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, “o bolsonarismo é uma ideologia do porão da ditadura”, sendo “a visão de mundo do sujeito que torturava comunistas e depois entrou para o esquadrão da morte, para garimpo ilegal, para jogo do bicho”. Atos vistos no Governo Bolsonaro, como a autorização do TRF-5 de que às instituições públicas comemorem o golpe militar “em nome do pluralismo democrático” – tal como realizado pelo Ministério da Defesa, que afirmou em um texto que “o Movimento de 1964 é um marco para a democracia brasileira. O Brasil reagiu com determinação às ameaças que se formavam àquela época” –, comprovam a falta de um trabalho de memória consistente com a redemocratização. 

Segundo a historiadora francesa Maud Chirio, esse fato “se tornou uma grande vantagem para que o campo da extrema direita possa justificar o que acontece agora como a reprodução de uma luta contra os comunistas corruptos, essa ‘entidade’ que já existia nos anos 1960, e que ficou congelada no tempo, como se o mundo nunca tivesse saído da Guerra Fria”. Dessa forma, o “medo vermelho” ressurge, assim como a grande presença de militares no poder – dois estudos recentes, um realizado pelo Tribunal de Contas da União e outro por meio de um Requerimento de Informação, apontam que o número de militares em cargos estratégicos na administração federal dobrou no governo Bolsonaro.

A problemática em torno desse cenário é ressaltada por Eduardo Svartman, professor da UFRGS: 

– Como as Forças Armadas detêm recursos humanos e materiais (tropas e armamentos) com grande poder de destruição, é importante que estejam afastadas do campo político. Em muitos países, por exemplo, é obrigatória uma quarentena de alguns anos para que um militar da reserva ocupe um cargo governamental. Contudo, boa parte da população segue sem enxergar o perigo à democracia que o culto à Ditadura provoca, visto que não só o processo de Justiça de Transição se deu de forma ineficiente, como também este foi controlado pelos mesmos militares que hoje estão no poder.

“Pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, por um Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim”. https://portaldisparada.com.br/politica-e-poder/bolsonaro-volta-da-tortura/amp/

O então deputado Jair Bolsonaro comemora em 2014 o 31 de março de 1964, data do golpe militar.

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/politica/doze-vezes-em-que-bolsonaro-e-seus-filhos-exaltaram-e-acenaram-a-ditadura/

Bolsonaro e o ditador Médici, um de seus ídolos.