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PLANEJAMENTO DA BARRA DA TIJUCA

A ocupação da Barra da Tijuca ocorreu de forma lenta, visto que a região era de difícil acesso por conta dos maciços e morros em seu entorno. Inicialmente, as terras pertenciam à família Sá, depois foram entregues aos padres beneditinos e, em 1891, passaram a pertencer a Companhia Engenho Central de Jacarepaguá. Entretanto, a Barra da Tijuca como conhecemos hoje teve início mais tarde, com a facilitação do acesso devido à expansão urbana da cidade e os projetos desenvolvimentistas no pós 1964.

Foi no governo JK, entre 1955 e 1960, que o crescimento do setor automobilístico no país gerou as autoestradas Lagoa-Barra e Grajaú-Jacarepaguá. As estradas e alguns outros acessos aumentaram a acessibilidade ao local, primeiramente vinda de Jacarepaguá e da Região Norte. A Barra, além de articulada à expansão rodoviária, deveria atender ao crescimento da ocupação da orla e do estilo de vida identificado com a Zona Sul carioca.

Em 1968, com a instauração do AI-5 e o milagre econômico, o plano urbanístico para Barra, cuja importância crescia, é confiado a Lucio Costa, arquiteto que projetou Brasília. No ano seguinte, nasce o “Plano piloto da Baixada de Jacarepaguá”, que deveria conciliar a modernidade e o avanço, aclamados pelas elites, com a preservação da natureza e ainda atender as aspirações empresariais dos setores privados. Neste período o Brasil vivenciava o “Milagre econômico” e, devido ao crescimento do PIB e das exportações, houve também o aumento do consumo de bens duráveis e da atividade imobiliária, com a política do Banco Nacional de Habitação. A Barra da Tijuca foi um prato cheio para os empresários da construção civil e do setor imobiliário. 

Em 1974, o Rio de Janeiro torna-se capital do estado. Com o fim do milagre econômico e a crise nas imobiliárias, houve perda de receita para a cidade e a necessidade de tornar o turismo e a cultura foco de ações públicas. Além disso, o setor privado fez algumas reivindicações para a construção de hotéis-residência e parcelamento de lotes na Barra da Tijuca. As alterações no plano de Lucio Costa geraram no arquiteto um desapontamento e ele acabou se afastando do projeto. 

A ampliação das classes médias e o crescimento do consumismo criou para a Barra da Tijuca um ideal de vida tranquila, moderna e privativa, desfrutado pela minoria que aspirava ao “American Way of Life” e a cidade de Miami. Os grandes condomínios que foram projetados acentuavam o modelo de vida privada, com segurança e ao mesmo tempo lazer, contato com a natureza e vista para o mar, e atraíam os “emergentes” de várias regiões da cidade. 

O planejamento da Barra da Tijuca ilustra o contraste social e a construção de um estereótipo carioca. Os avanços tecnológicos entre 1970 e 1980 foram acompanhados do crescimento populacional e da concentração de renda, gerando aumento da pobreza no país. Houve, então, uma acentuação da segregação entre áreas ricas e pobres em toda a cidade. Na Barra da Tijuca, de um lado, estava a orla coberta de luxuosos condomínios que prometiam a segurança e conforto; do outro, as favelas que se instalaram nas áreas de pouco interesse por parte das imobiliárias. 

Plano traçado por Lucio Costa para a ocupação da Barra da Tijuca; imagem retirada de Capítulos da Memória do Urbanismo Carioca / Fundação Getúlio Vargas.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

ALVES, Rodolfo Teixeira. (2017). O processo de construção, transformação e expansão da Barra da Tijuca para “o futuro do Rio de Janeiro”. Idealogando: revista de ciências sociais da UFPE, 1(2), 64-82. Disponível em: https://nbn-resolving.org/urn:nbn:de:0168-ssoar-57095-0. Acesso em: 02 de Junho de 2021.

DE LIMA, Adriana Gonçalves. (2005). Barra da Tijuca: Representação de “segurança” e privacidade no imaginário da cidade do Rio de Janeiro. Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina. Universidade de São Paulo. Disponível em: http://www.observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal10/Teoriaymetodo/Investigacion/20.pdf. Acesso em: 02 de Junho de 2021.