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Henri Ballot, povos indígenas e os irmãos Villas-Bôas

Henri Ballot nasceu no dia 8 de fevereiro de 1921 em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Filho de mãe brasileira e pai francês, Ballot cresceu em Charente, na França, desde os seus dois anos de idade e lá descobriu sua paixão pela aviação. Na Segunda Guerra Mundial, lutou contra o bloco fascista na Europa. Sua carreira como aviador, entretanto, encerrou-se em 1945, quando seu avião foi bombardeado. 

Sobrevivendo ao ataque, passou vinte meses recuperando-se num hospital norte-americano. Durante a sua internação, Henri Ballot conheceu um fotógrafo estadunidense que o apresentou ao mundo da fotografia e, por isso, seus primeiros registros foram dos seus vizinhos de enfermaria. 

Após recuperar-se, Ballot retornou à França para rever seus pais, mas, devido à grande destruição durante a II Guerra Mundial, não permaneceu lá por muito tempo e buscou abrigo no Brasil, abandonando, assim, sua vida como piloto. 

Em 1947, o franco-brasileiro foi contratado pela Revista do Rio, porém, no mesmo ano, ele saiu do emprego e foi em busca de outras oportunidades em São Paulo. Pouco tempo depois de chegar a São Paulo, em 1949, Henri foi contratado pela revista O Cruzeiro, uma das mais influentes na época. 

Em O Cruzeiro, Ballot foi responsável por fortalecer a implementação do fotojornalismo nos meios de comunicação, onde suas imagens tinham o papel de construir uma narrativa visual para as reportagens. Durante o tempo que esteve na revista, ele produziu aproximadamente treze mil imagens sobre diferentes temas, que poderiam representar desde festas e pessoas de influência a importantes acontecimentos no cenário nacional e internacional. 

Henri Ballot buscava, em seus trabalhos, obter fotografias mais naturais possíveis e, por isso, optava por utilizar câmeras capazes de captar o momento de forma real e instantânea, como fazia a Leica – que era sua câmera preferida.

A presença de Henri Ballot, juntamente com outros importantes nomes da fotografia brasileira como José Medeiros e Luciano Carneiro, em O Cruzeiro a partir da década de 1950 foi essencial para a implantação de um fotojornalismo de viés mais humanista. Ballot representava uma nova geração de fotógrafos que se opunham ao uso da fotografia como um espetáculo, como acontecia anteriormente na revista, e defendiam a realização de fotorreportagens mais documentais e de caráter objetivo. Nesse momento, temáticas relacionadas à cultura popular e ao povo brasileiro ganhavam mais espaço na revista. 

Em 1968, o nome Henri Ballot apareceu pela última vez em uma edição da revista O Cruzeiro. Após isso, o fotorrepórter chegou a assumir a direção do laboratório fotográfico do jornal Última Hora, mas, pouco tempo depois, no início da década de setenta, ele saiu do cargo e mudou-se com sua família – sua esposa Carmen Chateaubriand Ballot e seus filhos Eduardo e Helena – para Ilha Grande, no litoral fluminense, onde construiu uma casa e uma nova vida. Após dezenove anos morando em Ilha Grande, Henri e sua família foram viver na cidade de São José, em Santa Catarina, onde ele voava seu ultraleve – um pequeno avião de baixo peso e custo – e aproveitava para vender fotografias aéreas. 

Henri Ballot morreu no dia 18 de outubro de 1997 em Palhoça, Santa Catarina. De acordo com sua esposa Carmen, ele estava com câncer e, quando não conseguiu mais levantar, tirou a própria vida. 

O povo indígena txucarramãe e os irmãos Villas-Bôas

Certamente, durante sua carreira, Henri Ballot realizou fotorreportagens marcantes, sendo uma delas a cobertura fotográfica do primeiro contato dos irmãos Villas-Bôas com os indígenas txucarramães. O perfil inquieto e curioso de Ballot fez com que ele aceitasse participar dessa difícil expedição, que fez com os participantes lutassem contra a fome e doenças para chegar no lugar isolado da tribo. O seu resultado foi muito importante, pois os registros representavam, de maneira inédita, esses indígenas e seu modo de vida. 

Os indígenas txucarramães, atualmente mais conhecidos como indígenas caiapós-mecranotis, habitam os territórios que hoje correspondem ao sul do estado do Pará e ao norte do estado de Mato Grosso. Eles são um subgrupo dos indígenas Caiapós, ou Kayapós, que se separou com o passar dos anos. Esse povo originou-se do curso inferior do rio Tocantins, onde eles utilizavam dos recursos naturais para sobreviver. Entretanto, com o avanço da colonização no século XIX, aconteceu o primeiro contato da tribo com homens brancos, que não ocorreu de forma pacífica. Esse contato causou a morte de muitos indígenas e a escravização de grande parte desse povo. Foi apenas entre 1950 e 1960, após longos anos de violência, que a situação acalmou-se, quando alguns oficiais do governo começaram a realizar abordagens lentas e respeitosas.

A reportagem de Henri Ballot aconteceu no início desse período de abordagens mais lentas, quando, durante o governo de Getúlio Vargas (1951-1954), o objetivo era o de enfatizar o nacionalismo ao conhecer e colonizar as terras indígenas.  

Claudio e Orlando Villas-Bôas com índio txucarramãe

As revistas ilustradas, ao longo da segunda metade do século XIX e início do século XX, foram um dos principais focos para a distribuição e formação de imagens dos povos indígenas. Muitas vezes as representações afirmavam o lado pitoresco e etnocêntrico em relação às tribos, numa homogeneização das mais diversas etnias e personalidades presentes nas tribos, em tipos sociais, associados ao primitivismo e à figura imaginária do selvagem.  

Na imagem acima, percebe-se que Ballot captura, em primeiro plano, a interação entre os irmãos Villas-Bôas e um indígena, ao que parece, de forma espontânea. A imagem reforça a ideia de que a intenção era conhecer e interagir com essa população de forma amistosa e favorecer uma política indigenista que respeitasse a cultura do povo txucarramãe. 

Os irmãos Villas-Bôas foram responsáveis pela tentativa de mudança da política indigenista e luta pela demarcação das terras indígenas no Brasil. Essa política de preservação e reconhecimento da cultura dos indígenas foi um importante marco para a construção da cidadania no país, estando presente na construção da FUNAI em 1967 e sendo fortalecida na Constituição de 1988.

Referências Bibliográficas

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COSTA, Heloise. “Palco de uma História Desejada: O retrato do Brasil por Jean Manzon”, In Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, N. 27, Fotografia, 1998.

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Txucarramãe. Dicionário Online de Português. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/txucarramae/>. Acesso em: 30 mar. 2023.