Flávio Silveira Damm nasceu em 7 de Agosto de 1928 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Sua vida profissional como fotógrafo começou como auxiliar no laboratório do Alemão Ed Keffel. Em seguida, em 1946, ingressou como fotorrepórter no Jornal O Globo, onde apresentou seu primeiro trabalho de grande visibilidade – as imagens inéditas do autoexílio de Getúlio Vargas em sua fazenda em 1948.
Tal feito culminou em sua consagração como repórter fotográfico e o ingresso na equipe da revista O Cruzeiro, onde trabalhou de 1949 a 1959. Sua carreira no Cruzeiro é marcada por grandes coberturas internacionais como a coroação da Rainha Elizabeth II, em 1953, e o lançamento do primeiro foguete da base de Cabo Canaveral, em 1957. Suas temáticas vão desde assuntos globais, como a coroação da rainha, até a narrativa do cotidiano de comunidades do interior do Brasil, demonstrando a versatilidade desse fotorrepórter.
Junto com José Medeiros, também repórter de renome da revista O Cruzeiro e Yedo Mendonça, Flávio Damm, em 1962, fundou a “Image” – uma das primeiras agências de fotografia do país. As agências de notícia fundada tinham em vista a maior autonomia do trabalho do repórter fotográfico para garantir seus direitos autorais, já que muitos jornais usavam as imagens sem autorização do fotógrafo, e para conseguir maior controle sobre as coberturas que realizavam.
Sua carreira conta com 12 exposições no Brasil e no exterior, 28 livros e acervos vastos que guardam seu modo de narrar os acontecimentos profissionais que registrou ao longo de sua vida como fotógrafo. Suas fotografias seguem o padrão analógico em preto e branco, sem grandes cenas montadas, e, para isso, utilizava uma câmera Leica. Trata-se de um fotorrepórter de grande importância para a história da imprensa e da formação do ofício no Brasil.
Flávio Damm faleceu em 19 de Agosto de 2020, com 92 anos no Rio de Janeiro, em decorrência de uma pneumonia.
Getúlio Vargas e olhar de Flávio Damm
O primeiro evento que deu fama a Damm como um dos grandes foto-repórteres do Rio de Janeiro foi a cobertura do auto exílio do ex-presidente Getúlio Vargas.
Se tratando de um assunto que atingia o país como todo, Damm foi o disseminador, por meio de suas fotografias, da nova construção da imagem de Vargas, a partir da narrativa do “exílio”. Getúlio Vargas havia governado o país de maneira autoritária entre 1930 e 1945, e retornaria à presidência da república pelo voto popular. No retorno a presidência, o político tentou afastar a aura de autoritarismo presente na trajetória que o acompanhou nos anos 1930.
No dia 06 de novembro de 1948, foi publicada em O Globo a reportagem de título “A Longa Viagem de Volta” com texto de Rubens Vidal e imagens de Flávio Damm. A partir dessa reportagem analisaremos as imagens de Damm procurando estabelecer sobre elas as estratégias e funções que as mesmas desempenham.
A reportagem em questão gira em torno do auto exílio de Getúlio Vargas, e é posterior ao período da queda no fim do Estado Novo. Os veículos de imprensa e propaganda sempre foram ponto crucial da política de Vargas desde o Estado Novo, e a narrativa construída a partir das fotos de Damm aproxima a “nova realidade” de Vargas aos leitores de O Globo, de forma que, mesmo não sendo mais presidente do país ou estando em meios políticos, esteja inserido no meio público, a vista dos possíveis eleitores. Essa estratégia de apresentar Vargas como um político simples e comum, próximo do povo e da cultura popular, foi central na eleição de 1950.
A construção da caricatura de Vargas como homem do campo, que vive agora longe dos holofotes da política da capital cumpre, nesse sentido, a função de uma fotografia pública que conduz uma estratégia de reorganização e restabelecimento da imagem política de Vargas, ao mesmo tempo que registra uma versão do acontecimento histórico que foi a queda de Getúlio Vargas e do Estado Novo. A comunicação dessas fotografias solicita ao leitor uma opinião pública e também política, atribuindo as mesmas efeitos que se prolongam de diferentes formas, em diferentes períodos, para diferentes públicos. Vargas não é símbolo do Estado Novo, mas um político que espera ser chamado ao trabalho.
O momento registrado por Damm se torna complexo a partir do seguinte entendimento: a fotografia publicada por Damm faz parte de um arquivo histórico e fotográfico que reverbera, atinge e causa implicações diversas, que se diferem das reproduções, influências e consequências dessas mesmas fotografias no tempo atual.
Referências Bibliográficas
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