Diferentemente do ciclo repressivo inicial de 1964 que visava principalmente os sindicatos, partidos de esquerda e as organizações de trabalhadores rurais, e que também atingiu alguns professores e estudantes, o segundo ciclo repressivo, iniciado em 1968 com a edição do AI-5, vai ao encontro de um período mais repressivo, que tem como foco as universidades.
É nesse contexto que o expurgo de docentes se torna mais intenso. O objetivo seria remover os antigos desafetos que permaneceram mesmo após a operação limpeza de 1964. Os expurgos de professores tiveram início em abril de 1969, com as listas de aposentadorias e demissões. Dentre esses professores, estavam aqueles que apoiaram os protestos de 1968. Nesse contexto, a elaboração de listas era papel do então ministro da educação Tarso Dutra. No processo de expurgo a Cismec (Comissäo de investigação sumária do MEC) teve a função de coletar dados de funcionários considerados subversivos. Ainda tratando de organizações que auxiliaram no expurgo de professores, órgãos da Marinha e do Exército também estavam junto ao MEC.
As motivações para os expurgos variam de desafetos pessoais à questões ideológicas, já que muitos dos expurgados tinham inclinação ideológica à esquerda. No entanto, não seria correto mencionar uma limpeza ideológica completa, pois muitos professores com ideais contrários ao regime continuaram em seus cargos.
Independente das motivações, as perdas causadas pelas demissões e aposentadorias foi notória não somente nas universidades, como também em institutos de pesquisa. Além disso, os professores expurgados, não podendo se restabelecer em outras instituições no país, por conta da instauração do AC-75, que impedia que universidades contratassem professores expurgados pelo Al-5, se dirigiram para instituições exteriores privando o país de seus trabalhos acadêmicos avançados, em sua maioria.
A fuga de cérebros no período decorre do medo e das inseguranças vividas nos meios académicos. A evasão de pesquisadores e a interrupção de carreiras por meio do exílio forçado ou da migração para outros países com o intuito resguardar a própria vida, marcam o contexto crítico do momento. Após 1969, não houve mais expurgos significativos, mas a instauração do medo teve seu sucesso.
Referências Bibliográficas
HERMINIO, Beatriz; LOPOMO, Beatriz. América latina: a relação entre ciência e ditadura – Ditadura e ciência no Brasil, 2020. Disponível em <http://jornalismojunior.com.br/america-latina- ciencia-ditadura/>. Acesso em 26 de jul. de 2021.
As Universidades na Mira da Repressão. Disponível em: <http://memoriasdaditadura.org.br/universidades/#as-universidades-na-mira-da-repressão>. Acesso em 15 de jun. de 2021.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As universidades e o regime militar, Rio de Janeiro: Zahar, 2014. p.19 a 34 e p.170 a 192.