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Eugênio Silva e o “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa

Eugênio Silva nasceu no dia 25 de Dezembro de 1921 em Nova Serrana, Minas Gerais. Aos 10 anos de idade foi aprendiz na tipografia do tio Ataliba Lago que imprimia o semanário chamado A Voz do Sertão. Seu primeiro contato com o mundo da fotografia aconteceu em 1936, após a morte de sua mãe, quando ele, seu pai e seus 8 irmãos se mudam para Belo Horizonte, Eugênio Silva começou a trabalhar em uma casa de lentes vendendo equipamentos fotográficos. 

Em 1940, Nivaldo Correia, seu amigo e fotógrafo, o leva para trabalhar no jornal Estado de Minas, que integrava os Diários Associados de Assis Chateaubriand, proprietário da Revista O Cruzeiro. Eugênio Silva chegou a ser chefe de fotografia do Estado de Minas em 1948.

Seus esforços no Estado de Minas renderam uma colocação no quadro de fotógrafos da revista O Cruzeiro e sua primeira matéria na revista foi titulada como “Caravana da Fome”. Eugênio Silva chegou a ser chefe da sucursal de O Cruzeiro em Minas Gerais. Pela revista, acompanhou Guimarães Rosa durante sua viagem ao sertão para o livro “O Grande Sertão Veredas”, publicando imagens da viagem na edição do dia 21 de Junho de 1952, a eleição do Papa João XXIII, e a coroação da rainha Elizabeth. Também se interessava pela temática dos carnavais e das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Eugênio Silva faleceu no dia 21 de novembro de 2001. 

Fonte: Imagem de Eugênio Silva durante a viagem de Guimarães Rosa. Disponível  em: http://4.bp.blogspot.com/-NPcTj0LNeQg/UB3cpz_y9iI/AAAAAAAACvQ/SEP_O3JqStQ/s1600/EugenioSilva.jpg Acesso em: 06.abr.2023.

As viagens de Guimarães Rosa ao Grande Sertão Veredas

Evento de grande repercussão na história da literatura brasileira foi a publicação do livro O grande sertão: Veredas de Guimarães Rosa. Um livro sem separação de capítulos que narra um romance de amor e guerra espacialmente situado no sertão brasileiro. A trama, que se passa nos estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás, tem como protagonistas os homens sertanejos, boiadeiros e jagunços. 

Em 22 de Junho de 1952, a revista O Cruzeiro publicou uma reportagem cujo título era “Um escritor entre seus personagens”. A revista acompanhou Guimarães Rosa em sua viagem pelo sertão brasileiro, o que resultou em uma reportagem que aproxima o autor, sua obra e seus personagens. 

As fotografias eternizadas por Eugênio Silva tem três objetivos principais: apresentar o local onde o romance se passa; criar um esboço, que torna mais visual a caricatura dos personagens presentes na obra; e colocar Guimarães Rosa como um sertanejo comum, assim como seus personagens.

  A imagem abaixo mostra, em um plano geral, o cenário que ambienta toda a obra de Guimarães Rosa, o sertão de boiadeiros que se estende pelo interior do Brasil.

Ao longo da reportagem, em uma série de fotos pequenas, o fotógrafo constrói uma sequência narrativa própria para cada um dos sujeitos fotografados pela reportagem. É possível ver legendas como “MANUELÃO, capataz” e “SANTANA, vaqueiro-mestre”. Todos esses homens são fotografados de baixo para cima, com uma postura triunfante em cima de seus cavalos, como os grandes sertanejos do sertão. Esses homens, colocados de maneira tão heróica nessas imagens, conseguem transmitir ao público a imagem dos sertanejos, vaqueiros e jagunços de O Grande Sertão: Veredas.

Em outras duas imagens, tiradas em um plano médio e na vertical, o cotidiano do sertão é mostrado. Um simulacro do instantâneo da vida sertaneja. Na primeira imagem um homem de chapéu toca um berrante, instrumento usado por vaqueiros para chamar a atenção da boiada. E na segunda imagem um homem descansa na relva com seu chapéu apoiado nos joelhos e fumando um cigarro.

As imagens de Eugênio Silva, ao mostrarem os rostos dos reais vaqueiros e o cotidiano desses homens, chamam a atenção para a essência dos personagens da obra que, apesar de serem fictícios, são inspirados e semelhantes a brasileiros reais.

No que tange às imagens de Guimarães Rosa, Silva o retrata como mais um vaqueiro, comum ao bando. Rosa usa jaqueta de couro, chapéu de palha, monta a cavalo, descansa com os outros boiadeiros. Há uma legenda que diz: 

“O MESTRE DAS HISTÓRIAS DO FAROESTE BRASILEIRO: No fim da jornada de 40 léguas a cavalo, Guimarães Rosa tem uma barba de três dias, está vermelhão do sol e requeimado de poeira das trilhas sertanejas. Olha para trás, como que a verificar a grande distância percorrida”. (O CRUZEIRO, 1952).

Segundo a imagem de Eugênio Silva, Rosa é escritor, vaqueiro e líder da expedição ao sertão brasileiro, sendo aquele que escreve e vive a inspiração de sua própria obra, se misturando aos vaqueiros e como eles, sofrendo com as mudanças que o sertão pode causar ao homem. 

O fotógrafo como o escritor participam da aventura de descortinar a imaginação do sertão, numa grande expedição e viagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FILHO , Licínio. Descobrindo eugênio Silva. online. Daqui de Pitanguy A “Sétima vila do ouro” Cidade mãe do Centro-Oeste das Minas Gerais, 5 ago. 2012. Disponível em: https://daquidepitangui.blogspot.com/2012/08/descobrindo-eugenio-silva.html Acesso em: 6 abr. 2023.

LOUZADA, Silvana. Prata da Casa: Fotógrafos e fotografias no Rio de Janeiro (1950-1960). Rio de Janeiro: Eduff, 2014. p. 347

DA SILVA, Alvares. SILVA, Eugênio. Com o Vaqueiro Guimarães Rosa: Um escritor entre seus personagens. Revista: O Cruzeiro, Rio de Janeiro, ed. 0036, p. 42-46, 21 jun. 1952.

OUTRO Sertão. Direção: Adriana Jacobsen, Soraia Vilela. [S. l.: s. n.], 2013. Disponível em: https://youtu.be/m7iC8e3FLKk?si=PavqG9oJcWfVzVAm Acesso em: 1 set. 2023.