Sebastião Ribeiro Salgado é um fotógrafo brasileiro considerado um dos mais importantes da contemporaneidade. Nascido na pequena cidade de Aimorés, Minas Gerais, em 4 de fevereiro de 1944, é o único filho homem dentre outras sete irmãs.
Aos 15 anos saiu de sua cidade natal para cursar o resto de seu ensino fundamental e médio. Se formou em Economia no Espírito Santo, realizou um mestrado na Universidade de São Paulo (USP) e, posteriormente, concluiu seu doutorado na mesma área de formação em Paris, após se exilar durante o período da Ditadura Militar.
Durante o doutorado conheceu a arte da fotografia, mas foi apenas em 1973, enquanto trabalhava em Londres na Organização Internacional do Café, que Salgado realmente começou a fotografar. Com uma câmera Leica comprada pela esposa, que inicialmente a usaria para auxiliá-la em seus projetos de arquitetura, o fotógrafo começou a captar imagens por hobby, ao mesmo tempo em que desenvolvia um trabalho focado na cultura do Café na África.
Um ano depois, decidiu deixar sua carreira como economista e se dedicar exclusivamente à produção fotográfica, retornando à Paris e realizando diversos trabalhos como freelancer. Sequencialmente, foi contratado pela agência Sygma para trabalhar como fotógrafo profissional.
Enquanto ainda era freelancer, registrava todo e qualquer tipo de imagem, vagando desde paisagens até conteúdo esportivo. Entretanto, foi na área do fotojornalismo que se encontrou: com fotografias de cunho social e. já com seu estilo de captura de contraste de luz e sombra em imagens em preto e branco, começou a revelar mazelas da sociedade e cobrir eventos históricos como a Revolução dos Cravos, em Portugal e o atentado contra o presidente estadunidense Ronald Reagan.
Em 1975 foi contratado pela Gamma, empresa em que permaneceu por quatro anos e que o possibilitou se tornar mundialmente conhecido, visitando mais de vinte países e desenvolvendo um projeto sobre a condição de vida de camponeses e índios latino-americanos. Ainda nessa agência, Salgado se vinculou à cooperativa internacional de fotógrafos Magnum e permaneceu lá até 1994, chegando a ocupar a cadeira da presidência.
Após esse período na Magnum, o artista produziu uma série de fotos sobre migrações de pessoas pelo mundo por diversos motivos como guerras, perseguições e a fome. Nomeadas posteriormente de “Êxodos”, esse projeto – e principalmente sua passagem por Ruanda – o colocou em contato com uma realidade de extrema brutalidade onde presenciava milhares de mortes por dia, gerando nele um sentimento de desacreditação na humanidade e enfraquecendo consideravelmente sua saúde. Decidiu parar seu trabalho fotográfico, e voltar para o Brasil.
Ao voltar, herdou de seus pais a antiga fazenda em que foi criado na região do Vale do Rio Doce, município de Aimorés em Minas Gerais. Incentivado pela esposa e percebendo o desmatamento na antiga propriedade, inicia o reflorestamento do terreno e funda o Instituto Terra, organização com o foco de angariar fundos pelo mundo inteiro para questões ligadas à sustentabilidade e ecologia.
Esse período marca uma retomada do trabalho como fotógrafo, mas dessa vez o enfoque não era a sociedade e sim a natureza e a questão indígena. Então, entre 2004 e 2011, fotografou e divulgou uma série de fotos que tinham como objetivo principal criar o que ele mesmo chamou de “um sistema de informação” e levantar uma discussão sobre como a sociedade deve preservar e buscar viver em um equilíbrio com o planeta em que vivem. Gênesis, nome que deu a esse projeto, foi publicado em 2013 e contou com imagens de paisagens, espécies da flora e da fauna de mais de 30 viagens, além de diversas fotos de povos nativos, principalmente do Brasil.
Entre diversas contemplações ao longo de sua carreira, alguns dos maiores e mais importantes prêmios de Sebastião Salgado à nível internacional são o Eugene Smith em 1982 – seu primeiro –, o Oscar Barnack – que recebeu duas vezes, em 1985 e 1992 – o Erna e Victor Hasselblad e dois prêmios de Fotojornalismo do International Center of Photography. Além disso, recebeu honrarias como representante da Unicef e membro Honorário da Academia das Artes e das Ciências dos Estados Unidos.
A VISÃO DE SALGADO SOBRE A CORRIDA DO OURO BRASILEIRA
No ano de 1980, entre a região do Carajás e do Araguaia, no sudoeste do Pará, foi encontrado na Fazenda Três Barras uma pepita de ouro em uma área elevada do terreno. Após essa descoberta, para averiguação, um grupo de 30 homens foi autorizado a entrar e a resposta foi quase imediata: havia ouro de aluvião – ou seja, ouro obtido por fragmentos de rochas desprendidas – em praticamente toda a região. Com tamanho achado, a notícia se espalhou rapidamente por todo o país e, durante os anos de 1981 e 1992, milhares de pessoas saíram de todas as regiões do país com o sonho de mudar de vida pela exploração do minério, tornando a Serra Pelada o maior garimpo a céu aberto do mundo.
Ao longo do tempo, com a exploração cada vez mais massiva, chuvas torrenciais na região e uma perfuração no lençol freático, a antiga elevação se transformou em um lago de mais de 100 metros de profundidade. Em meio a condições de trabalho já extremamente precárias, sem contar o contexto de extrema violência que os garimpeiros vivenciavam, era desumano continuar a exploração manual.
Em 1986, o fotógrafo foi ao encontro desse sítio de exploração para registrar a situação do lugar, assim como a dos trabalhadores. Esse ensaio, que teve a duração de 33 dias, só foi possível ser realizado após 6 anos de tentativa de autorização do governo ditatorial brasileiro. Durante esse período, Sebastião Salgado permaneceu com os trabalhadores o tempo todo: trabalhavam juntos (cada um de sua forma), se alimentavam juntos e até dormiam no mesmo lugar. Inicialmente, foi visto com maus olhos, mas, após entenderem o objetivo do projeto dele, começaram a tratá-lo como igual.
Como resultado desse projeto, as imagens divulgadas tornaram o trabalho de Salgado ainda mais prestigiado, tendo elas repercussão mundial. Mais de três décadas depois, enquanto o artista estava se recuperando de uma cirurgia no joelho, Leila propôs a ideia de reunir esse acervo precioso. Então, no ano de 2019, fotos previamente divulgadas e outras 31 inéditas foram reunidas para fazer parte da exposição “Gold – Mina de Ouro da Serra Pelada”. Inaugurada em São Paulo, a exposição passou por lugares como Estocolmo, Tallin, Londres e Fuenlabrada. Além disso, a mostra também ganhou duas versões em livros, uma para colecionadores e outra para o público geral. Essa iniciativa permitiu não só reexibir o episódio como estimular o público a pensar sobre as condições de trabalho nos dias atuais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Biografia de Sebastião Salgado. Funarte, 2013. Disponível em: https://portais.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/infoto/biografia-de-sebastiao-salgado/ Acesso em: 02 ago. 2023.
Corrida do ouro em Serra Pelada. Memória Globo, 2021. Disponível em: https://memoriaglobo.globo.com/jornalismo/coberturas/corrida-do-ouro-em-serra-pelada/noticia/corrida-do-ouro-em-serra-pelada.ghtml Acesso em: 01 out. 2023.
Sebastião Salgado: SALGADO, Sebastião. O drama silencioso da fotografia. Youtube, 01 mai. 2013. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qH4GAXXH29s
O novo olhar de Sebastião Salgado sobre Serra Pelada. El país, 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/26/cultura/1564157673_876694.html Acesso em: 11 set. 2023
Sebastião Salgado e a fotografia social mundialmente famosa. Artcetera, 2022. Disponível em: https://artcetera.art/fotografia/sebastiao-salgado/#2-Quando-e-como-foi-o-comeco-do-Sebastiao-Salgado-na-fotografia Acesso em: 02 ago. 2023