Gervásio Carlos Baptista, ou apenas Gervásio Baptista – que ele dizia ser seu “nome de guerra” na imprensa –, nasceu no dia 19 de junho de 1923, em Salvador, na Bahia. Filho único de uma família simples, seu pai, Aristides Baptista, era motorista de Táxi, e sua mãe, Alexandrina Baptista, era dona de casa. Quando criança, a sua brincadeira favorita era com uma caixa de fósforos de cera, que ele fingia ser uma câmera fotográfica e usava para tirar retratos.
Quando Gervásio estava um pouco mais velho, seu pai lhe falou que ele precisava arrumar um emprego, porque, de acordo com ele, “um homem que não tem profissão não merece viver”. Foi assim que, aos nove anos de idade, o pai o colocou para trabalhar em uma loja de fotografias em Salvador, uma vez que a brincadeira preferida do filho era fingir ser fotógrafo.
Sua primeira oportunidade surgiu quando apareceu, na loja em que Gervásio trabalhava, um médico e político que precisava tirar uma fotografia com urgência. Mesmo avisado que não havia retratistas na loja, o político insistiu e perguntou se o menino Gervásio poderia tirar, e ele aceitou. O homem ficou tão impressionado com a rapidez e com a qualidade da imagem obtida que perguntou se Gervásio gostaria de trabalhar em outro lugar. E foi assim que ele conseguiu emprego no jornal O Estado da Bahia, dos Diários Associados, onde começou a desenvolver suas habilidades fotográficas aos 12 anos.
Trabalhando em O Estado da Bahia, ele conheceu e fotografou Assis Chateaubriand (dono da rede de comunicação dos Diários Associados), que viu valor em Gervásio e o levou para trabalhar em O Cruzeiro. Na revista ilustrada carioca, ele teve a oportunidade de aprender e se espelhar em José Medeiros e Jean Manzon, mas por um período curto de tempo, pois, logo em seguida, lhe foi oferecido um emprego melhor e que lhe daria mais visibilidade na revista Manchete.
Gervásio Baptista ficou na Manchete desde a revista número 1 até o último número que circulou em 2000, e lá ele teve a oportunidade de cobrir uma grande diversidade de eventos nacionais e internacionais. Alguns exemplos de coberturas realizadas por Gervásio são: A Guerra do Vietnã, a queda de Perón na Argentina, O Miss Universo, a Revolução Cubana, a Revolução dos Cravos em Portugal e, também, o mandato de muitos presidentes brasileiros, como Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e João Goulart.
Ao contrário do fotojornalismo que buscava a imagem satírica e pouco usual dos políticos, Gervásio Baptista tinha orgulho de pactuar com as representações dos presidentes e seus projetos de poder.
Imagens de presidentes brasileiros
Não é em vão que Gervásio Baptista era comumente conhecido como o fotógrafo dos presidentes. O fotógrafo se orgulhava de ter fotografado todos os presidentes brasileiros desde 1953 até o período em que esteve vivo – 2019 –, e isso lhe trouxe alguns registros que ficaram marcados não apenas em sua carreira, mas também na história do país. Ele esteve presente em diversos momentos relacionados à política, como a cobertura que ele fez para a revista Manchete do sepultamento do corpo de Getúlio Vargas e da festa de inauguração de Brasília.
Nesse episódio da inauguração de Brasília, Gervásio viajava com o presidente Juscelino Kubitschek como representante da revista Manchete. Gervásio tinha sido encarregado de conseguir uma fotografia que pudesse ser a capa da edição semanal da revista, e assim fez a famosa foto de Juscelino Kubitschek com a cartola na mão.
Na imagem acima, pode-se perceber o então presidente Juscelino Kubitschek capturado, em primeiro plano, sorrindo e com uma feição alegre, enquanto estica um braço para cima segurando sua cartola. Ao fundo da imagem, é possível ver o Congresso Nacional da recém-inaugurada capital brasileira. Essa imagem, não só devido à postura do presidente e ao seu enquadramento, mas também ao momento de mudança e festividade que está inserida, representa um dos registros mais emblemáticos desse líder e de seu governo.
A inauguração de Brasília marcou o Plano de Metas de JK, sendo a meta síntese, e o processo de desenvolvimento industrial e interiorização do país. O governo de Juscelino (1956-1960) ficou conhecido como “anos dourados” e como “presidente bossa nova”, sendo associado a modernidade e ao progresso. A foto de Gervásio Baptista pactua com essas representações positivas do político e de seu governo, assim como a linha editorial da revista Manchete.
Um outro registro importante feito por Gervásio Baptista refere-se à fotografia de Tancredo Neves. Eleito presidente de maneira indireta em 1984, após a campanha pela Diretas Já que reivindicava eleição direta do presidente da república e fim da ditadura, o político foi a esperança de fundação da “Nova República” e do fim do regime militar.
A imagem mostra, em plano médio, Tancredo Neves sentado em um sofá cercado por médicos. A fotografia, que tinha como propósito representar Tancredo em um momento alto-astral, acabou tendo o efeito contrário. Percebe-se, na imagem, o político pálido, com olheiras, olhos fechados e em uma posição que o faz parecer cansado, trazendo ao público uma ideia de doença e exaustão. Além disso, alimenta a imaginação de algumas pessoas, como aconteceu neste caso, onde surgiram teorias que questionavam se Tancredo estava vivo no momento da fotografia, ou até mesmo se havia uma enfermeira atrás do sofá escondida com bolsas de soro nas mãos.
Em menos de um mês depois do registro feito em 1985, a morte de Tancredo foi anunciada, em 21 de abril do mesmo ano. Sempre que questionado sobre a veracidade dessa fotografia, Gervásio afirmava que jamais aceitaria manipular nenhuma imagem e que tudo que estava representado no registro, era real. Em entrevista ao jornal O Tempo, Gervásio disse: “Se eu não estivesse acompanhando a trajetória da doença, eu não acreditaria que ele sairia tão bem na foto. Ele estava bem. Fotografei ele e os médicos. E aí, pouco depois, aconteceu o que aconteceu”. Além disso, o fotógrafo também comentou, em 2015, ao canal Última Cortina, sobre os boatos que surgiram na época da fotografia sobre Tancredo, principalmente o que falava sobre ele estar morto: “Morto? Que história é essa? Estava vivíssimo. Eu me negaria a fotografar se não fosse verdade”.
Após a morte de Tancredo, quem assumiu foi José Sarney, de quem Gervásio se tornaria fotógrafo oficial e com quem ele passaria, de acordo com o próprio Gervásio Baptista, por uma das fases mais espetaculares de sua vida profissional. A partir daquele momento, Gervásio seguiu com sua paixão por fotografar líderes e eventos políticos e fotografou muitos presidentes do Brasil, a ponto de ser reconhecido atualmente como o fotógrafo dos presidentes.
Gervásio Baptista morreu no dia 5 de abril de 2019, aos 96 anos de idade. Ele morava em Brasília e sua morte foi por causas naturais. Ele mantinha contato com o mundo da fotografia e, em alguns momentos, costumava dar entrevistas sobre a sua trajetória.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HOMEM, R. Super Pauta: Entrevista: Gervásio Baptista. Disponível em: <http://superpauta.blogspot.com/2014/07/entrevista-gervasio-baptista.html>. Acesso em: 28 mar. 2024.
MALVA, P. Os bastidores da foto mais polêmica de Tancredo Neves. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/presidente-morto-vivo-os-bastidores-da-foto-mais-polemica-de-tancredo-neves.phtml>. Acesso em: 28 mar. 2024.
Exposição no DF conta a trajetória do autor da foto mais famosa de JK; veja programação. Disponível em: <https://g1.globo.com/df/distrito-federal/o-que-fazer-no-distrito-federal/noticia/2019/01/12/exposicao-no-df-conta-a-trajetoria-do-autor-da-foto-mais-famosa-de-jk-veja-programacao.ghtml>. Acesso em: 28 mar. 2024.
Gervásio Baptista e a história por trás da famosa foto de Tancredo “se recuperando”. Disponível em: <https://www.socialistamorena.com.br/gervasio-baptista-e-a-historia-por-tras-da-famosa-foto-de-tancredo-se-recuperando/>. Acesso em: 28 mar. 2024.