Sérgio Vital Tafner Jorge, normalmente chamado só de Sérgio Jorge, nasceu em Amparo, uma cidade do estado de São Paulo, no dia 7 de abril de 1937. Demonstrando interesse pela fotografia relativamente cedo, aos 15 anos ele começou a fotografar sua cidade e participou do Cine Foto Club de Amparo.
Em 1955, ele se mudou para a cidade de São Paulo, onde começou a trabalhar como fotógrafo no jornal O Dia. Em menos de um ano ele foi contratado pela Fundação Casper Libero, editora do jornal A Gazeta e também da Gazeta Esportiva, onde seu trabalho começou a ganhar reconhecimento.
No ano de 1959, ele atuou como freelancer para a revista Manchete, local onde ele desenvolveu um de seus trabalhos mais famosos, registrando o trabalho da “carrocinha”. Após ter suas imagens expostas em pelo menos 36 publicações e ser premiado na categoria de Fotografia do Premio Esso de Jornalismo, Sérgio Jorge foi contratado pela Manchete, em 1960, revista onde ele ficou até 1970.
Durante sua carreira na Manchete ele viu diversas mudanças no mundo da fotografia, como a mudança das fotos em preto e branco para foto em cores, enquanto fotografava momentos históricos como a carreira de Pelé e a construção e a inauguração de Brasília. Em 1969 ele esteve presente quando agentes da ditadura militar mudaram de lugar o corpo de Carlos Marighella, que havia sido assassinado momentos antes, sendo apenas possível realizar a captura de fotos após a mudança.
No ano de 1970 ele deixou a revista Manchete após receber um convite de Chico Albuquerque para trabalhar na montagem do Estudio Abril, onde ficou por 4 anos.
Após uma longa carreira no fotojornalismo e na fotografia em geral, Sergio Vital Tafner Jorge morreu em 30 de novembro de 2020, aos 83 anos de idade, devido a um quadro grave de Covid-19, deixando para trás um pelo menos um filho.
A “carrocinha” e a metropolização
A presença do vírus Lyssavirus no mundo é mais antiga do que a da maioria das civilizações, sendo ele o causador da temida doença da “raiva”, que possui uma taxa de fatalidade de quase 100% após a aparição de seus sintomas. No Brasil, a doença possui uma presença importante na história sanitária do desenvolvimento urbano do país. A “carrocinha” e as campanhas de vacinação contra a raiva ligam-se a experiência urbana em cidades brasileiras.
O controle da doença foi feito principalmente a partir da descoberta do vírus e a vacinação. Em 1885, na França, Louis Pasteur, um cientista francês, criou a primeira versão da vacina da raiva, que foi um feito monumental para a época. Devido à grande importância médica dessa descoberta, Pasteur começou a receber um enorme número de doações monetárias, o que possibilitou que ele criasse o Instituto Pasteur, que teve sua sede na França, mas depois foi disseminado para diversos países no mundo.
O Instituto Pasteur chegou no Brasil em 1903, na cidade de São Paulo, após uma angariação de fundos por parte da elite paulistana que foi iniciada em 1901, sendo motivada pela necessidade do estudo e controle da raiva na cidade. Em 1916 o controle desse instituto em São Paulo foi entregue ao governo do estado, sendo então possível uma maior integração da sua atuação com outros órgãos estaduais em campanhas sanitárias para controle da raiva e o combate aos “cães vadios”.
A ciência, a urbanização e o sanitarismo andaram juntos na formação das metrópoles. Até os anos de 1940 eram registradas menos de 10 mortes ocasionadas pela raiva por ano entretanto, com o desenvolvimento urbano do país os casos de raiva tiveram um aumento significativo a partir de 1943, sendo registrados um número mínimo de 15 mortes por ano. Um fator que influenciou esse aumento foi o crescimento do número dos chamados “cães vadios”, cachorros que andavam soltos pelas ruas das cidades.
Juntamente com a metropolização das cidades acentuou o trabalho das “carrocinhas”, no controle dos “cães vadios” e seu significado no debate público. Em 1959, Sergio Jorge participava de uma pauta da revista Manchete que era discutida a elaboração de uma reportagem sobre a campanha de vacinação de cachorros que acontecia na época. Durante essa discussão ele propôs a ideia de fotografar o trabalho dos homens da carrocinha, que coletavam animais para serem sacrificados.
Com suas próprias palavras ele disse “Queriam falar da raiva canina (…), mas eu me lembrei de quando era criança em Amparo e do medo da carrocinha pegar seu cachorro. Eu mesmo tive um cachorro pego por ela. Mas ainda bem que meu pai conseguiu salvar o cão”. Após ter sua proposta aprovada, Sergio Jorge acompanhou o trabalho da carrocinha em São Paulo durante 3 dias.
No decorrer desses 3 dias ele viu adultos e crianças atirando insultos e pedras contra os chamados “laçadores de cachorros”, até que ele conseguiu capturar um momento que iria ter enorme repercussão e lhe daria o seu prêmio Esso.
As fotografias mostravam um menino chorando enquanto segurava a corda que um dos homens da carrocinha utilizava para levar seu cachorro. A sequência de 4 fotos expressivas intitulada “Não matem meu cachorro” teve grande destaque na revista Manchete, tendo sido exposta em 4 páginas.
“Não Matem meu Cachorro”, fotografia vencedora do Prêmio Esso de Fotojornalismo. (Foto: Sergio Jorge)
A imagem sugere o drama da vacinação contra a raiva canina. Curiosamente, o fotografo assume o ponto de vista dos donos dos cães que tinha medo da vacinação, e não do Estado que buscava assumir uma política sanitária para controlar a doença. O caso evidencia o drama do desenvolvimento urbano nas cidades brasileiras e os embates entre autoridades públicas e a população.
As fotografias da reportagem sobre a carrocinha foram um grande marco na carreira de Sergio Jorge, que comentou “Na verdade, quando publiquei esta foto, ainda era colaborador da revista. Graças a ela fui contratado logo em seguida”.
Referências Bibliográficas:
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PERSICHETTI, Simonetta. Um olhar, uma história: ganhador do 1º prêmio esso de fotografia, sérgio jorge narra imageticamente momentos importantes da vida brasileira. Ganhador do 1º Prêmio Esso de Fotografia, Sérgio Jorge narra imageticamente momentos importantes da vida brasileira. Disponível em: https://revistacasper.casperlibero.edu.br/edicao-19/um-olhar-uma-historia/. Acesso em: 31 jul. 2024.
TITO, Fábio. Sergio Jorge, ícone da fotografia brasileira, morre aos 83 anos, vítima de Covid-19. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2020/11/30/sergio-jorge-icone-da-fotografia-brasileira-morre-aos-83-anos-vitima-de-covid-19.ghtml. Acesso em: 31 jul.
2024BABBONIA, Selene Daniela; MODOLO, José Rafael. Raiva: Origem, Importância e Aspectos Históricos. Cient Ciênc Biol Saúde , São Paulo, n. 349-56, ed. 13, 2011. Disponivel em: https://journalhealthscience.pgsscogna.com.br/JHealthSci/article/view/1090/1046 Acesso em: 31 jul. 2024