O fotógrafo Erno Schneider nasceu em 1935, em Feliz, cidade do Rio Grande do Sul. Seus primeiros contatos com a fotografia foram quando se mudou para Cruzeiro do Sul com sua família, durante a sua adolescência. Foi em Porto Alegre, entre 1955 e 1958, que iniciou sua carreira no jornal O Clarim, dirigido por Leonel Brizola. Finalmente, em 1960, se mudou para o Rio de Janeiro e trabalhou em diferentes jornais, como: Jornal do Brasil, Correio da Manhã e O Globo.
Ele registrou vários eventos na sua carreira, consagrando-o como um fotógrafo, que renovou a linguagem do fotojornalismo. Ele foi um dos responsáveis por fotografar a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, pelo Correio da Manhã, além de ter fotografado as manifestações durante a Ditadura Militar. O fotojornalista foi importante não só na construção social-política da época, como também do imaginário cultural da história do Brasil.
Em 1961, Erno Schneider fotografou o que se tornou uma das fotos mais famosas e conhecidas de todos os seus trabalhos: a fotografia de Jânio Quadros com as posições dos pés trocadas.
Erno Schneider e o presidente Jânio Quadros
Ao definir a própria profissão, Erno Schneider dizia: “Fotografia tem de ser na rua. Sentir as coisas, sentir a vida. Olhar, principalmente olhar. Você tem que observar muito bem. Tem de ser o grande observador. Observar e clicar”. Essa definição esclarece a maneira como o fotógrafo lidava com sua profissão e, também, ajuda a compreender a foto mais marcante de sua carreira.
Em 21 de abril de 1961, quando trabalhava no O Globo, Erno Schneider capturou a fotografia do então presidente, Jânio Quadros, com os pés tortos. Ao descrever a foto para o programa Fantástico, disse,
enquanto o Jânio ia encontrar o Frondizi na ponte, no meio da ponte, ele resolveu ir a pé. E estava andando, eu acompanhando-o do lado. De repente, deu um tumulto. Um tumulto muito grande. O Jânio levou um susto e se virou. Na hora, eu vi que ele estava todo estranho, todo torto. Eu senti que tinha uma foto diferente. Aí, eu dei um clique. Foi um só também.
Sua forma de fotografar levava esse caráter espontâneo, porém certeiro, considerando sempre como a característica mais importante, a observação e sua relação com a notícia e o momento que se desejava reportar. Essa característica é importante, pois nesse período houve uma reforma gráfica em jornais, que passou a valorizar a imagem fotográfica.
A fotografia ganhou o prêmio Esso de Fotografia de 1962, e toda sua repercussão deve-se ao impacto político que teve na época. Como relatado pelo próprio fotógrafo, o clique aconteceu enquanto Jânio Quadros estava em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, na ponte que liga o Brasil à Argentina, e decidiu ir caminhando para seu encontro com o então presidente argentino, Arturo Frondizi. Todavia, a imagem capturava a ambiguidade das ações de Jânio Quadros – presidente eleito pela União Democrática Nacional (UDN), mas que não se posicionava nem a direita nem a esquerda. Sendo parte de uma coalizão política liberal e anticomunista, Jânio Quadros chegou a condecorar Che Guevara e fazer discursos favoráveis à Revolução Cubana (1959) na América Latina.
A foto mostra seus pés tortos, como se tivessem apontado para dois lugares ao mesmo tempo. Ela virou símbolo da desordem de seu governo, que teve fim quatro meses após a captura de Erno Schneider. O presidente renunciou ao cargo na tentativa de conseguir apoio popular e gerar uma comoção para que o Congresso Nacional lhe concedesse mais poderes. No fim, ocorreu o contrário, o Congresso aceitou a renúncia, e teve início um conflito para que João Goulart (vice-presidente eleito) assumisse a cadeira – a chamada Campanha da Legalidade.
A fotografia de Jânio Quadros normalmente é usada como ícone do populismo na história do Brasil. Indica a demagogia dos presidentes eleitos entre 1945 e 1964, bem como a instabilidade política que foi característica do período, com várias tentativas de golpe de Estado.
O fotojornalista Erno Schneider morreu no dia 08 de outubro de 2022, no Rio de Janeiro, com 85 anos, depois de sofrer uma queda em sua casa. Seu legado ficou marcado nas fotografias dos jornais e na história da nação brasileira.
Referências
BRASIL, Área de imprensa. O trabalho do fotógrafo Erno Schneider no acervo do Correio da Manhã. Disponível em: https://www.gov.br/arquivonacional/pt-br/canais_atendimento/imprensa/copy_of_noticias/o-trabalho-do-fotografo-erno-schneider-no-acervo-do-correio-da-manha. Acesso em: 02 out. 2023.
BRASIL, Senado Federal. Jânio: uma foto que interpretou a história. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2011/08/25/janio-uma-foto-que-interpretou-a-historia. Acesso em: 02 out. 2023.
ERNO Schneider e a fotografia do Correio da manhã. arfoc rio. Disponível em: https://arfoc.org.br/index.php/erno-schneider-e-a-fotografia-do-correio-da-manha/#:~:text=A%20sua%20import%C3%A2ncia%20na%20produ%C3%A7%C3%A3o,depois%20do%20Golpe%20de%201964. Acesso em: 02 out. 2023.
ERNO Schneider, fotógrafo vencedor do Prêmio Esso por registro histórico de Jânio Quadros, morre aos 87 anos. G1, 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2022/03/08/erno-schneider-fotografo-vencedor-do-premio-esso-por-registro-historico-de-janio-quadros-morre-aos-87-anos.ghtml. Acesso em: 02 out. 2023.
MAUAD, Ana. Memórias do contemporâneo, a trajetória de Erno Schneider em foco. Stadium 27, 2008, p. 115-131. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/studium/article/view/12350/7634.
RUBIN, Nani. O clique perfeito de Erno Schneider. IMS, 2022. Disponível em: https://ims.com.br/2022/03/09/o-clique-perfeito-de-erno-schneider/. Acesso em: 02 out. 2023.