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Genevieve Naylor e a Politica de Boa Vizinhança no Brasil

Genevieve Naylor (Foto do Acervo da UFMG)

Genevieve Hay Naylor nasceu em 2 de fevereiro de 1915, em Springfield, no estado americano de Massachusetts. Seus pais, um advogado e uma moça pertencente a elite local, se separaram quando ela tinha 10 anos.

Criada de acordo com os padrões das classes médias e valores elitistas da costa leste dos EUA, desde cedo, tenciona esses hábitos, estudando desenho e pintura em uma escola de artes local. Lá, ela conheceu Misha Reznikoff, seu professor e homem pelo qual se apaixonou.

Em 1933, ela se muda para Nova York com seu companheiro e continua seus estudos de pintura. Em 1934, ela visita uma exposição de fotografia que contava com grandes nomes da fotografia, como Eugene Atger, Henry Cartier-Bresson e Berenice Abott – profissionais que eram famosos por retratar a arquitetura e cotidiano da cidade de Nova York.

Naylor decide então mudar seu foco artístico, da pintura para a fotografia, e, então, desloca-se para a New School for Social Research, local onde Berenice Abott lecionava. As duas formaram uma grande amizade e por meio da convivência com Berenice, Genevieve pode ter contato com fotógrafos da Grande Depressão Americana, organizados pela Farm Security Administration.

A Farm Security Administration (FSA) era uma instituição do governo dos EUA, parte do Departamento de Agricultura. Foi criada em 1937 com o objetivo de providenciar auxílio para populações rurais no país. Durante sua atuação, a FSA desenvolveu um programa de fotografia: fotógrafos visitavam áreas rurais e registravam a vida, a cultura e as dificuldades sofridas pelas pessoas do campo, buscando sensibilizar o resto da população diante desta realidade. As imagens arquivadas e divulgadas pela FSA tornaram-se um importante momento para a conscientização sobre a questão social decorrente da crise de 1929.

O volume e a importância da produção fotográfica da FSA para abordar questões sociais nos EUA colaborou para produção de um estilo de fotografia documental: as concerned photographs . Os fotógrafos dirigidos por Roy Stryker, chefe da FSA, registravam temas de grande relevância, como a justiça social, a cultura de vanguarda, a integração racial, dentre outros.

No ano de 1937, aos 22 anos, Genevieve Naylor foi recomendada pela liga profissional de fotógrafos para fazer parte da Work Progress Administration, entidade na qual ela trabalhou registrando temas de caráter social em diferentes cidades dos EUA.

Em 1939, Naylor fazia parte da Associated Press, sendo a primeira fotografa norte-americana a desempenhar a função numa agência de notícias. Seu trabalho com a fotojornalismo esteve presente em importantes revistas internacionais, como a Time, a Life e a Fortune .

O estilo de fotografia que Genevieve Naylor demonstrava em suas fotorreportagens tinha influência de sua formação em pintura e desenho, realizada com a orientação de seu marido, Misha Reznikoff, e também de seu contato com Berenice Abott e os fotógrafos da FSA. Naylor possuía uma sensibilidade para os temas sociais e mantinha um olhar treinado para a estética visual das formas plásticas, das linhas, das composições e dos claros e escuros.

Genevieve Hay Naylor morreu em 21 de julho de 1989, aos 74 anos de idade, 28 anos após a morte de seu marido, deixando inúmeras fotografias como seu legado.

Genevieve Naylor e a Política de Boa Vizinhança no Brasil:

Em 1940, Genevieve Naylor chega ao Brasil com o intuito de registrar imagens positivas do país. Trabalhando para o Coordinator of Inter-American Affairs (CIAA), ela deveria receber um passe do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão do governo brasileiro que tratava de censurar e reprimir atividades culturais e midiáticas durante o governo Vargas. Entretanto, o passe só foi concedido no ano de 1942, fazendo com que ela tivesse que atuar sem ele durante grande parte do seu tempo no país.

Tanto o CIAA, como o DIP, buscava utilizar as fotografias de Naylor como propaganda, sendo o objetivo da agência americana contribuir para o sucesso da política de Boa Vizinhança. A política de Boa Vizinhança buscava estreitar as relações entre os EUA e os países da América Latina, principalmente no âmbito econômico e cultural. Desse modo, era imprescindível que os cidadãos norte-americanos tivessem uma imagem formada das populações latino-americanas. Diante disso, o uso de meios midiáticos como uma maneira de exposição cultural era uma das principais ferramentas para atingir esses fins.

Naylor recebeu instruções especificas sobre o que fotografar no Brasil, a arquitetura, os bairros nobres, as caridades da primeira-dama. Entretanto, devido a sua a sua formação, ela buscou fotografar a população brasileira em seu cotidiano e durante o carnaval. Em suas fotografias, ela procurava expor o caráter do povo do Brasil evitando enquadrá-los como exóticos, demonstrando a realidade diversa, a multirracialidade e outras multiplicidades do local.

Referências

MAUAD, Ana Maria. Genevieve Naylor, fotógrafa: impressões de viagem (Brasil, 1941-1942). Revista Brasileira de História, [s. l.], v. 25, n. 49, p. 43-75, 2005.

EUA. DIGITAL PUBLIC LIBRARY OF AMERICA. . America’s Great Depression and Roosevelt’s New Deal: farm security administration (fsa). Farm Security Administration (FSA). Disponível em: https://dp.la/exhibitions/new-deal/recovery-programs/farm-security-administration?item=409. Acesso em: 16 ago. 2023.

MAUAD, Ana Maria. O olho da história: fotojornalismo e história contemporânea. Disponível em: https://www.comciencia.br/dossies-1-72/reportagens/memoria/12.shtml. Acesso em: 16 ago. 2023


GARCIA, Tania da Costa. Política de Boa Vizinhança – Apresentação: política de boa vizinhança. Política de Boa Vizinhança. Disponível em: http://antigo.anphlac.org/politica-boa-vizinhanca-apresentacao. Acesso em: 16 ago. 2023.