
Roy Rudolph DeCarava, nascido no dia 9 de dezembro de 1919 em Harlem, Nova York, foi um fotógrafo e artista norte-americano que se empenhou nos registros de afro-americanos.
Tendo nascido em meio ao Renascimento do Harlem, movimento artistico cultural de Nova York, DeCarava trabalhava como pintor, descobrindo seu interesse pela fotografia muito depois, com o intuito de captar de maneira mais clara as expressões faciais das pessoas. Na década de 1940 e 1950, ele começou a registrar em fotos a vida no Harlem e a cultura das comunidades negras nos Estados Unidos usando elementos de realismo e lirismo, utilizando luz e sombra para dar cor aos contornos de seu trabalho e aos personagens fotografados.
DeCarava naquele momento era um dos fotógrafos mais renomados dos Estados Unidos, tendo exibindo fotografias que mostravam uma outra realidade do qual era muito diferente do que se via pelas ruas da Broadway na cidade mais rica do mundo ocidental. Foi em Harlem, sua cidade natal, em que DeCarava foi um dos fundadores iniciais de diversas obras de arte em preto e branco. Sua abordagem sensível e artística ajudou a trazer uma nova definição de como os negros eram retratados na América.
O JAZZ E A FOTOGRAFIA
O fotógrafo também dedicou-se a um gosto pessoal: o jazz. Roy sempre manteve uma paixão pelo ritmo musical desde muito cedo por influencia de sua comunidade, mais tarde vindo a registrar ícones da música como John Coltrane, Miles Davis, Billie Holiday e outros ícones.
Com sua nova abordagem mais intimista e expressiva, conseguiu dar movimento às suas fotos. Em 1955, ele, em conjunto com o escritor Langston Hughes, lançou um livro denominado ‘’The Sweet Flypaper of Life’’, onde utilizou suas fotografias em narrativas, chegando a ser recebido até mesmo no Museu de Arte Moderna de Nova York. O livro se tornou um símbolo em diversas obras da literatura afro-americana, ganhando notoridade dentro e fora do país.

Na fotografia acima, ao contrário de uma visão estática e fixa do músico, há uma imagem que sugere movimento e vibração. O jazz era produto das comunidades negras e da capacidade de artistas tocarem e improvisarem ritmos que afrontavam os canônes musicais eurocêntricos. Eram músicos virtuosos que faziam do improviso instrumental e da capacidade de sentir a música e produzir o swing uma marca de ruptura aos padrões artísticos.
No movimento do Renascimento do Harlem, o jazz foi uma das principais expressões musicais da vitalidade da comunidade negra em meio ao racismo e às políticas de segregação racial nos Estados Unidos. DeCarava dava destaque a esse movimento em sua fotografia, assim como a outras expressões do cotidiano das comunidades afro-americanas.
FOTOGRAFIA E RESISTÊNCIA NEGRA
Ao longo de sua carreira, DeCarava veio a enfrentar o racismo. Em uma de suas entrevistas, o fotógrafo não guarda palavras ao citar que ‘’o único lugar que não era segregado no exército era a ala psiquiátrica do hospital. Fiquei lá por cerca de um mês. Fiquei no exército por cerca de seis ou sete meses no total, mas tive pesadelos sobre isso por vinte anos.’’
As leis de segregação racial nos Estados Unidos perduraram do final do século XIX à meados do século XX. Nos anos 1960, a luta pelos direitos civis levou a abolição, em nível nacional, de uma série de regulamentos estaduais e locais que discriminavam os afro-americanos de espaços, serviços e instituições. Eles ficavam proibidos de acessar esses espaços e eram controlados de forma violenta por políticas supremacistas brancas.

A obra de DeCarava enfatizava as comunidades negras num contraponto às políticas de segragação, evidenciando a dignidade e resistência dos sujeitos dessas localidades. Ele veio publicar cerca de 5 livros de arte e, ao longo de sua carreira, ganhou diversos prêmios, sendo ele o primeiro afro-americano a conquistar a prestigiosa bolsa de Guggenheim, sendo o primeiro fotógrafo negro a ganhar tal destaque.
Sob esse mesmo viés, DeCarava ainda viria a ser homenageado, conquistando a Medalha Nacional de Artes do National Endowment, o maior prêmio que um artista poderia receber, sendo diretamente entregue pelo Governo dos Estados Unidos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MoMA: https://www.moma.org/artists/1422-roy-decarava. Acesso em 24/03/2025
The Photografers Gallery: https://thephotographersgallery.org.uk/whats-on/roy-decarava. Acesso em 24/03/2025
David Zwirner: https://www.davidzwirner.com/artists/roy-decarava. Acesso em 26/03/2025